Morte, luto e despedida
Este tema vem pra mim já a algum tempo e decidi escrever um pouco sobre ele, sobre as minhas reflexões e sobre o que vivencio sistemicamente nas Constelações Familiares.
Confesso que falar sobre isso me causa atenção. Afinal de contas, o que é a morte? A morte física de uma pessoa especial pra mim, de alguém que não conheço, a morte de tudo o que acredito, a morte de um projeto, de um sonho, de um relacionamento amoroso, de alguém que nem chegou a nascer. Morte física, morte simbólica. Qual a importância de vivenciarmos esta morte, vivermos este luto e nos despedirmos de uma forma que cura, nos liberta e que é possível seguirmos adiante?
Enquanto escrevo sinto um nó na minha garganta. Talvez este texto seja novamente pra mim (e qual não seria…?)
Hoje pela manhã, dirigindo na estrada, estava ouvindo uma música: “Nuvem”, de Carolina Deslandes. Comecei a observar a sua letra e me emocionei profundamente quando percebi que se tratava de uma homenagem ao avô. E por que chorei e me emocionei tanto? Porque não tive a oportunidade nesta vida de abraçar, beijar e me encantar com os meus 2 avôs. Os 2 Josés. Quando nasci meu avô materno já havia falecido. Já o meu avô paterno morava em Portugal, o qual o conheci com 5 anos e tive a presença física dele por apenas 1 mês das minhas férias escolares. Percebi que não vivenciei a verdade dessa música. E isso me tocou. De alguma forma fui privada deste contato. Hoje, como mulher adulta compreendo melhor tudo isso (as minhas escolhas, bendizer). Na verdade, acho que me acostumei com a ausência deles. E hoje me dou conta de que não vivenciei em vida e nem me despedi adequadamente deles. Bateu uma saudade estranha. Uma saudade do que não aconteceu. Mas uma verdade e uma gratidão de tudo o que eles viveram (e sofreram até) para que eu pudesse estar aqui hoje. Olho para o meu corpo, para a minha aparência, e me reconheço muito neles. Sou a continuidade de tudo o que eles sonharam, mesmo não podendo vivenciar a presença dos nossos abraços eternos.
Poder olhar para o passado e ser grata me traz paz. Ao contrário do que não aceitar o que foi, exatamente do jeito que foi. E aqui falo da nossa vida como um todo. Das nossas escolhas, decisões e de tudo o que foge ao nosso gosto e vontade. Estar em paz traz paz a todos os que estão envolvidos e nos movimenta para seguir adiante, sem que fiquemos aprisionados a toda energia do passado.
A vida é movimento e uma compreensão de que ela caminha para frente, num fluxo contínuo de energia, como um rio que segue adiante. E se a água fica parada, adoece a ela e a todos os que estão em volta. É possível purificá-la? Claro. Seguindo… com amor, respeito e gratidão.
Vivenciar o luto e nos despedirmos torna possível encerrarmos um ciclo. Um ciclo de vida, de aprendizados e de respeito, acima de tudo. Um trabalho numa empresa no qual você já não faz mais parte, um relacionamento amoroso que findou, a mulher que se torna mãe e se despede de ser “apenas” mulher, pois agora inicia um novo (e incrível) ciclo da maternidade. Saber encerrar ciclos nos abre espaço e oportunidades para novos momentos, novos projetos e novas possibilidades. Ficar aprisionado ao que já passou nos deixa estagnados, como a água do rio. Traz sintomas e nos adoece com o tempo.
Sinta em qual momento da sua vida você está parado(a), esperando e/ou vivendo no passado. O que você ainda precisa vivenciar para se despedir e seguir adiante? O que você ainda aguarda? Às vezes é “só” um abraço. Outras, um reconhecimento. E outras até um “eu vejo você”.
Que estas palavras permeiem o seu coração e te auxiliem a liberar este fluxo de energia estagnado. A vida te espera de braços abertos! Siga adiante em paz. Você merece!
Com Amor,
Lourdes A. Lima
Terapeuta Integrativa